Fortes e Fortaleza

Fortaleza de Santa Cruz 

A Fortaleza de Santa Cruz, localizada em Niterói, à direita de quem entra na Baía de Guanabara,  é datada de 1612 . Os colonos portugueses investiram na fortificação com o objetivo de proteger o território recém conquistado dos indígenas. Ao longo da história, a construção se tornou uma das fortificações mais importante da América, pois  a região era um terreno fértil para a pilhagem de rivais europeus tendo em vista que pelas águas da Guanabara saiam cargas valiosas,como o ouro no século XVIII, e chegavam  mercadorias importadas, como escravos.

Em seus 400 anos de História, a fortificação passou por inúmeras reformas, adquirindo o seu perfil arquitetônico atual em torno de 1860.Santa Cruz é uma joia que demonstra a grandiosidade da engenharia militar luso-brasileira pois foi feita totalmente sobre a rocha, e apenas com pedras que foram cortadas, numeradas e encaixadas simetricamente umas sobre as outras.Nos seus 7000m², em estilo arquitetônico abaluartado,surgido na Itália Renascentista,  pode-se perceber uma série abóbadas de berço,casamatas, mais de 40 peças de artilharia, masmorras, prisões, pátio de fuzilamento, e uma Capela , cuja imagem de Santa Bárbara demonstra a riqueza do barroco nacional.

Santa Cruz  foi palco de muitos eventos marcantes, como a defesa contra um ataque francês,em 1710, e a  participação na  Revolta da Armada, a guerra  que assolou o país nos anos 1890. Devido a sua importância, inúmeras personalidades marcantes  já estiveram presas no local, como José Bonifácio,Juscelino Kubitschek, e Euclides da Cunha.Cabe acrescentar, ainda, que desde 1939 a Fortaleza é tombada pelo IPHAN. 

O horário de funcionamento é de Terça a Domingo, das 10:00 às 17:30. É possível chegar através do ônibus 33 no Terminal João Goulart e o local possui vagas para carros.Existe relativa acessibilidade para cadeirantes, pois alguns pontos possuem escadas.

  • Forte Barão do Rio Branco(Verbete)

O Forte Barão do Rio Branco, localizado no bairro de Jurujuba, em Niterói, tem a sua pedra fundamental datada de 1696, e era chamado de Forte da Praia de Fora. Essa fortificação foi construída para servir de retaguarda à Fortaleza de Santa Cruz a fim de impedir ataques surpresas.Vale lembrar que durante a primeira metade do século XVIII, o território sob domínio português vivia o auge da extração de ouro em Minas Gerais, e o Porto Rio de Janeiro, além de ser um dos maiores receptores de escravos das Américas, era o lugar onde se escoava essa produção para a Europa, tornando-se alvo de incursões de piratas e corsários, o que determinou a criação de novas fortificações na Baía de Guanabara. 

Esse forte, de modo raro, foi planejado para  usar armas de infantaria e não de artilharia. É notório, ao visitar o local, a presença de certeiras no muro para a colocação de fuzis e o reduzido número de canhões. Entre 1769 e 1778, no contexto de reformas administrativas da Coroa portuguesa impulsionadas pelo Marquês de Pombal,recebeu melhorias. Posteriormente, por ocasião da crise diplomática entre o Brasil e a Inglaterra,  a chamada Questão Christie (1862-1865),quando a frota inglesa bloqueou cinco navios brasileiros na Baía de Guanabara, foram feitas novas reformas e os parapeitos, passaram de 70 cm de espessura para 7 metros.

O agrupamento militar que gerencia o Forte é o 21° Grupo de Artilharia de Campanha, que esteve presente na Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Nele, encontra-se preservado como monumento em memória dos brasileiros que morreram no conflito, o canhão em que foi disparado o primeiro tiro na Itália. 

Em 1938 a fortificação da Praia de Fora foi tombada pelo IPHAN e foi renomeada como Forte Barão do Rio Branco. A visitação ocorre de terça a domingo, com  duas visitas guiadas às 10h  e às 14h. A entrada custa 10 reais a inteira. O Forte localiza-se na Alameda Marechal Pessoa Leal, nº 265. Possui estacionamento e pode-se chegar até lá pelo ônibus regular nº33 , que sai do Terminal Rodoviário João Goulart. Não conta com equipamentos de acessibilidade para pessoas com deficiência.

  • Forte de Gragoatá ( Verbete)

O Forte de Gragoatá, localizado em Niterói, na orla de Boa Viagem, é datado de 1696 e  Gragoatá foi criado pelos colonos portugueses para proteger a cidade do Rio de Janeiro frente a possíveis  ataques de piratas e corsários rivais europeus. A estratégia dos lusitanos era se fazer uma segunda linha de defesa em que Gragoatá junto ao Forte de Villegaignon ( atualmente próximo ao Aeroporto Santos Dumont) impedisse  um navio invasor, de atacar o porto do Rio, caso esse navio conseguisse resistir à primeira linha de defesa, respectivamente as fortalezas de Santa Cruz e São João.

No que diz respeito à  arquitetura, que atingiu sua característica atual apenas na década de 1860, vale destacar cinco aspectos: em primeiro lugar, a  muralha baixa, que foi feita  para aproveitar o terreno de modo a  colocar o maior número possível de canhões com o intuito de se fazer uma defesa paralela à linha d’água. Em segundo lugar, a existência de parepeitos entre as posições de artilharia -algo raro nas fortificações do país- que foram construídos para evitar que um projétil atingisse um dos artilheiros. Junto a isso, tem-se os túneis, cujo objetivo era facilitar o deslocamento dos combatentes. Ademais, a existência da bateria à cavaleiro, em uma posição mais elevada, que permitia um comando mais eficaz. Por fim, o Pórtico de entrada do Forte, que é datado de 1863,onde se lê uma homenagem ao Imperador Pedro II, símbolo da identidade nacional e da integridade territorial da nação brasileira.

Ao longo de seu funcionamento, o Forte funcionou como um ponto de defesa para que produtos primários, como ouro, açúcar e café passassem em segurança pela Baía de Guanabara e seguissem viagem para Europa. Ao mesmo tempo em que as mercadorias manufaturadas da Europa e  os  navios com escravos da África pudessem adentrar no Porto também em segurança. Em 1893, o Forte desempenhou um papel importante ao lado das forças legalistas na Revolta da Armada, a guerra civil que assolou o país por seis meses, e causou inúmeras mortes e ruínas ao redor da Baía de Guanabara. 

Desde 1938 o Forte de Gragoatá é tombado pelo IPHAN. Nele funciona o departamento que coordena o alistamento militar. Além de permitir a contemplação da beleza arquitetônica luso-brasileira, o Forte convida a pensar sobre o legado da colonização portuguesa e a constituição da identidade nacional. Por fim, o turista pode admirar a linda orla de Boa viagem e a cidade de Niterói com o seu cartão postal, o MAC, ao fundo. As visitas ocorrem de terça a domingo das 10h às 17h. A entrada  custa 5 reais, é possível chegar de ônibus. Não possui equipamentos de  acessibilidade.

  • 1 ° SAIBA +

O principal acontecimento da história do Forte de Gragoatá foi a sua participação na 2 ° Revolta da Armada, sendo decisivo para que as forças legalistas conseguissem sufocar os revoltosos, tendo em vista que era um ponto estratégico. Quando os rebeldes tentaram invadir a Ponta da Armação (próximo à entrada da Ponte Rio Niterói), o efetivo deste forte os bombardeou. A Revolta, que durou de setembro de 1893 a março de 1894, foi devastadora para as cidades no entorno da Baía de Guanabara e a orla de Niterói ficou em ruínas. Em função disso, a capital do Estado do Rio de Janeiro foi transferida temporariamente para Teresópolis e de lá para Petrópolis, retornando para Niterói apenas em 1903. 

Os primeiros anos da república brasileira foram bastante conturbados.No governo de Deodoro da Fonseca e de Floriano Peixoto, o país estava em crise econômica e assolado pelo aumento da inflação.Esse caos, por sua vez,foi o terreno fértil para que surgisse a crise política, que se fez presente em algumas regiões, como foi o caso da 2 ° Revolta da Armada. Nessa revolta, os oficiais da Marinha( Armada) pediram a renúncia do presidente Floriano Peixoto, alegando que o marechal ocupava o cargo de forma inconstitucional. 

  • 2 ° SAIBA +

Os registros dessa Guerra Civil podem ser vistos abaixo. Estas fotos foram tiradas pelo fotógrafo espanhol Juan Gutierrez 

 

( Obs: Por questões autorais ainda não vou colar as fotos mas elas já estão em computador)

 

  • Forte do Imbuí ( Verbete)

O Forte do Imbuí, localizado na Praia do Imbuí, no bairro de Piratininga, em Niterói, teve a sua construção iniciada em dezembro de 1863, como Forte D. Pedro II. Essa fortificação foi pensada com o objetivo de ampliar a defesa da Baía de Guanabara, que se mostrou fragilizada devido ao bloqueio militar inglês, que ocorreu em novembro de 1862, no contexto da Questão Christie, a crise diplomática entre o Brasil e a Inglaterra. 

Em função dos gastos militares derivados da Guerra do Paraguai (1864-1870) e da crise que atingiu o Império em fins do século XIX, as obras pararam e só foram retomadas após a proclamação da república, em 1889.  Nessa oportunidade, os militares e os políticos fizeram um esforço de valorização do passado nacional a fim de legitimar o novo regime político, o que incluiu a reforma de uma série de fortificações na Baía de Guanabara, além de terminar a obra inacabada do então Forte Pedro II. Em 1901, o forte foi reinaugurado como Forte do Imbuí.

Essa fortificação ocupa uma área de 2.400 m², e sua arquitetura é constituída com cantarias de pedras retiradas da costa, cimentadas com óleo de baleia, cal e mouriscos triturados, onde se destacam as cúpulas encouraçadas de ferro endurecido e aço-níquel, dotadas de poderosos canhões. Chega-se ao local, por uma estrada em que se pode contemplar a beleza da mata atlântica niteroiense, a boca da Baía de Guanabara, e a zona sul do Rio de Janeiro e a Praia oceânica do Imbuí. 

As visitas ocorrem aos sábados, domingos e feriados, das 9h às 16h, e custam 10 reais a inteira. O acesso ocorre por meio do Forte Barão do Rio Branco, na Alameda Marechal Pessoa Leal, nº 265, sendo possível chegar por meio de transporte público, pegando o ônibus 33 no Terminal Rodoviário João Goulart. Tem vagas para carro e não possui acessibilidade para pessoas com deficiência.

  • Forte do Pico ( Verbete)

O Forte do Pico, localizado no bairro de Jurujuba, em Niterói, data de 1918 e foi pensado a partir plano de fortificações de 1895, cujo objetivo era reformar o sistema de defesa da Baía de Guanabara tendo em vista as consequências da 2° Revolta da Armada(1893-1894).

A sua arquitetura é diferente das fortalezas mais antigas, como Santa Cruz, Gragoatá, Praia de Fora e São Luiz, porque foi projetado para colocar obuseiros em vez de canhões. Os obuseiros são feitos para atirar para cima de modo que a bala atinja de forma vertical e caia por cima do navio a ser atacado no mar e não pela lateral como fazem os canhões. Para construir essa inovadora estrutura foi preciso esculpir a pedra no cume do morro alisando o chão com ferramentas manuais.Na visita ao Forte é possível ver o encontro da parte de pedra com a de alvenaria, o que demonstra já naquele tempo a grandiosidade da engenharia brasileira.

Esse sistema de forte representou uma grande inovação em 1918 pois os navios encouraçados estavam cada vez mais potentes e os canhões não conseguiam mais derrubá-los, o que ficou nítido na 2 ° Revolta da Armada. Nessa guerra civil que durou seis meses, os revoltosos se apoderaram do encouraçado Aquidabã para pressionar a renúncia  do então presidente da república, Marechal Floriano Peixoto. Durante esse conflito, as tropas legalistas perceberam a dificuldade de atacar o encouraçado com canhões, o que motivou a compra dos obuseiros.

As peças do Forte do Pico só disparam uma vez e foram tiros de advertência O episódio ocorreu em 1955,  por determinação do Ministro da Guerra, o Marechal Henrique Teixeira Lott  contra o navio cruzador Tamandaré, que estava com rebeldes militares comandados pelo presidente interino da república, Carlos Luz,  que objetivava impedir a posse do presidente eleito, Juscelino Kubitschek.

A visitação ocorre de terça a domingo, com visitas guiadas às 10h e às 14h,  e ingressos a 10 reais a inteira. O Forte fica na Alameda Marechal Pessoa Leal, nº 265, onde se chega pelo ônibus regular nº 33, que sai do Terminal Rodoviário João Goulart. Tem vagas para carro e não  possui equipamentos de acessibilidade para pessoas com deficiência.

 

 

  • 1° SAIBA +

Em 1955, no episódio em que o Forte do Pico disparou contra os militares rebeldes a bordo do Cruzador Tamandaré, o país encontrava-se imerso numa grande crise política relacionada ao suicídio de Getúlio Vargas, em 1954. Além disso, havia a tentativa de setores civis, ligados ao partido político UDN (União Democrática Nacional), de Carlos Lacerda, e de  alguns setores militares rebeldes em dar um golpe de Estado, o que não ocorreu em 1955 devido às forças legalistas comandadas pelo Marechal Lott. Essas forças legalistas conseguiram manter a democracia no Brasil em 1955, garantindo o respeito à constituição brasileira. Contudo, nove anos depois, em 1964 a democracia foi suspensa no país, tendo retornado apenas em 1985.

  • 2° SAIBA +

Dentre as seis fortificações em Niterói, o Forte do Pico, em 1918, foi o último a ser construído. A partir dos anos 1920, além de  não se construírem novas fortificações de defesa em Niterói, os fortes já existentes foram aos poucos inativados. Isso ocorreu na medida em que a difusão do uso avião tornou inviável defender um território por meio de fortes tendo em vista que uma cidade a ser defendida não poderia mais ser protegida posto que é raro uma posição deste tipo conseguir abater um avião. 

Dos anos 1920 até a atualidade, os países passaram a se preocupar em defender o seu território não mais com fortificações, mas sim com monitoramento do espaço aéreo por meio de equipamentos com alta tecnologia e preparação de frotas armadas que possam a qualquer momento repelir um inimigo invasor.

Embora hoje não sejam mais relevantes na defesa do território, os Fortes de uma maneira geral são espaços de memória.No caso do Brasil, esses espaços servem para  contar um pouco da história da defesa territorial do nação, e ao visitá-los é possível enxergar o laço de identidade nacional que une  as pessoas enquanto cidadãos. Nós, 215 milhões de pessoas, somos um povo que compartilhamos um passado em comum. Além disso,a visita aos fortes serve para fazer refletir sobre problemas do passado que causam consequências até hoje. Ao entender, por exemplo, que foi utilizado trabalho escravo na construção de quase todos os fortes de Niterói é possível refletir sobre o legado da escravidão e a sua consequência no Brasil de hoje,que são a desigualdade socioeconomica e o racismo.

 

  • Forte São Luiz ( Verbete)

O Forte São Luiz, localizado no bairro de Jurujuba, em Niterói, é datado de 1775, e foi construído no contexto de reformas do sistema defensivo da Baía de Guanabara realizadas no governo do vice-rei Marquês do Lavradio (1769-1778). Esse forte encontra-se em ruínas,onde o visitante pode contemplar o que sobrou das suas imponentes muralhas e seu grandioso portão, além de apreciar as vistas da cidade de Niterói, da Mata Atlântica, da Baía de Guanabara, e do Rio de Janeiro.

O Forte, que se encontra a 180 m acima do nível do mar, foi pensado para servir de retaguarda à Fortaleza de Santa Cruz de modo a evitar um desembarque de inimigos pela Praia de Fora ou um ataque surpresa pela mata. Feito de pedra bruta, colocada por escravos, sua arquitetura é rudimentar e anterior à construção de cantaria , que foi utilizada em reformas posteriores  como a de Santa Cruz no século XIX e em construções como o Forte do Pico no século XX. 

A construção de fortes e as frequentes reformas dessas edificações nesse período se relacionam à elevação do Rio de Janeiro, em 1763, a capital da colônia portuguesa, e à crescente importância do porto carioca, ensejando a melhoria do sistema defensivo da região. Nessa época, a Coroa portuguesa receava ataques da frota inglesa ou espanhola ao Rio de Janeiro, o que jamais ocorreu.

A criação do Forte São Luiz revela o medo de Portugal em perder o seu território  colonial na América. Quando os portugueses chegaram no século XVI, eles ficavam apenas no litoral e para conseguirem avançar para o interior foi preciso séculos de conquista sobre os milhares de povos indígenas que habitavam o continente. O tamanho atual do território brasileiro só foi adquirido e consolidado na metade do século XIX sobre o reinado de Pedro II.Sendo assim, embora esteja em ruínas, o  Forte de São Luiz é um espaço de reflexão sobre o legado da colonização portuguesa na América e a formação territorial do Brasil no século XIX.

A visitação ocorre de terça a domingo, com visitas guiadas das 10h às 14h,  e ingressos a 10 reais a inteira. O Forte fica na Alameda Marechal Pessoa Leal, nº 265, onde se chega pelo ônibus regular nº 33, que sai do Terminal Rodoviário João Goulart. Tem vagas para carro e não  possui equipamentos de acessibilidade para pessoas com deficiência.

  • 1 ° SAIBA + 

Para compreender os motivos da construção do Forte São Luiz é válido analisar o contexto histórico e geopolítico da época. Entre 1756 e 1763 houve a Guerra dos Sete Anos, considerada uma das primeiras guerras globais da história. Essa guerra envolveu, dentre diversos outros países, a Inglaterra de um lado, e França e Espanha de outro. Os britânicos, após a vitória sobre os franceses e espanhóis, conquistaram uma série de territórios no mundo como o Canadá, Nova Escócia, Flórida, Tobago, Granada e Dominica. A ampliação das possessões inglesas causou um receio em Portugal. Foi nesse período, que o Marquês de Pombal, secretário de estado do rei D. João V, entre 1756 e 1777,  enviou a seguinte carta ao vice-rei do Brasil,  Marquês do Lavradio:

A última guerra que cessou pelo Tratado de Paris de 10 de Fevereiro do ano  1763 constituiu os ingleses na maior vaidade e elevou tanto a sua natural arrogância que se acham no estado de conquistarem os domínios ultramarinos de todas as outras potências da Europa cada vez que acharem ocasião ou pretexto para a empreenderem

 

Como se percebe no documento acima, fala-se em natural arrogância dos ingleses. Essa natural arrogância reflete a visão de Pombal sobre a histórica relação entre o reino português e a coroa britânica. De acordo com Pombal, Portugal havia se subordinado aos interesses políticos da Inglaterra, tendo se tornado ao longo do século XVIII em um vassalo econômico da coroa inglesa.  Isso ocorreu pois embora Portugal tenha enriquecido com a cana de açúcar no nordeste desde o século XVI, com o ouro de Minas Gerais no século XVIII, e com o tráfico de escravos africanos, a Coroa lusitana não investiu em manufaturas, ao contrário da Inglaterra. Em outras palavras, os portugueses tinham que comprar produtos fabricados dos ingleses, pois não se investiu em tecnologias de fabricação em Portugal. Esse é um dos principais motivos que explica o pioneirismo da Inglaterra na revolução industrial a partir da segunda metade do século XVIII e a decadência econômica portuguesa.  Visto isso, cabe notar que as reformas pombalinas foram uma série de medidas realizadas com o intuito de modernizar a administração do reino e tentar amenizar essa histórica dependência econômica da Inglaterra. Para tanto, buscou-se investir em manufaturas e realizar a coleta de impostos de forma mais eficiente. A transferência da capital da colônia de Salvador para o Rio de Janeiro, em 1763, se insere nesse contexto. Nessa época, a extração de ouro de Minas Gerais, que havia atingido o seu auge em 1744, começou a declinar e a Coroa portuguesa percebeu que era preciso fiscalizar de perto essa extração para evitar o contrabando de exploradores que não queriam pagar os impostos devidos, o que diminuiria ainda mais a receita fiscal da Corte.

  • 2° SAIBA +

Em 1762, a Espanha ocupou terras portuguesas no Rio Grande do Sul, em 1765 atacou o Forte da Conceição em Mato Grosso e em fevereiro de 1777 atacou Santa Catarina. Esses conflitos terminaram com o Tratado de Santo Ildefonso, assinado em outubro de 1777. Nesse acordo, Portugal perdeu a colônia de Sacramento (atual Uruguai) e conseguiu ter domínio sobre Santa Catarina e o Rio Grande do Sul. Percebe-se, dessa forma, que o Forte de São Luiz se insere num contexto de defesa do território colonial lusitano na América.

A colonização portuguesa na América do Sul ocorreu entre 1530 e 1822 e foi um dos principais acontecimentos da história da humanidade. Quando, em 1530, os aventureiros e corajosos desbravadores decidiram ocupar de forma efetiva o território, todo o atual Brasil era mata virgem e haviam milhões de povos nativos de diferentes etnias, línguas e religiões.. A partir de 1530 foram aos poucos se criando vilas, missões, arraiais e capitanias; se constituindo câmaras, onde era exercido o poder político do reino;  e se criando igrejas para difundir a fé católica. A ocupação portuguesa sempre foi muito limitada a poucas regiões litorâneas. O primeiro grande produto de exportação foi a cana de açúcar no  atual Nordeste brasileiro, depois veio a produção de algodão, anil, tabaco, cacau e drogas do sertão. Junto a isso, a criação de gado e a descoberta do ouro em Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso atraiu milhares de estrangeiros e moradores do litoral para o interior, o que permitiu o surgimento de um mercado interno de abastecimento e a expansão colonial portuguesa. Depois, no século XIX veio o café e entrou em cena a imigração de milhares de italianos, japoneses e alemães.

O Brasil surgiu em 1822, mas  as suas fronteiras geográficas,  a ideia de nacionalidade e de que somos um povo que compartilha um mesmo passado e estamos sob uma mesma demarcação política, apenas se consolidou na década de 1840 no reinado de Pedro II. Para isso foi preciso criar instituições políticas do estado no interior do país, capazes de reprimir qualquer movimento separatista que ameaçasse a nação brasileira.

Visitar o Forte São Luiz permite olhar para o passado e ver o legado lusitano no país. Se hoje falamos português e  a maioria da população é católica foi porque eles também eram. Se hoje apenas 1 % da população brasileira é indígena, foi porque milhares morreram por doenças trazidas da Europa ou por guerras. Se hoje, 130 anos depois do fim da escravidão, ainda existe racismo no Brasil foi porque 4,6 milhões de negros embarcaram aqui e o preconceito foi sendo ensinado de pai para filho, de geração a geração, e a sociedade se constituiu dessa forma.

  • Forte do Pico ( Verbete)

O Forte do Pico, localizado no bairro de Jurujuba, em Niterói, data de 1918 e foi pensado a partir plano de fortificações de 1895, cujo objetivo era reformar o sistema de defesa da Baía de Guanabara tendo em vista as consequências da 2° Revolta da Armada(1893-1894).

A sua arquitetura é diferente das fortalezas mais antigas, como Santa Cruz, Gragoatá, Praia de Fora e São Luiz, porque foi projetado para colocar obuseiros em vez de canhões. Os obuseiros são feitos para atirar para cima de modo que a bala atinja de forma vertical e caia por cima do navio a ser atacado no mar e não pela lateral como fazem os canhões. Para construir essa inovadora estrutura foi preciso esculpir a pedra no cume do morro alisando o chão com ferramentas manuais.Na visita ao Forte é possível ver o encontro da parte de pedra com a de alvenaria, o que demonstra já naquele tempo a grandiosidade da engenharia brasileira.

Esse sistema de forte representou uma grande inovação em 1918 pois os navios encouraçados estavam cada vez mais potentes e os canhões não conseguiam mais derrubá-los, o que ficou nítido na 2 ° Revolta da Armada. Nessa guerra civil que durou seis meses, os revoltosos se apoderaram do encouraçado Aquidabã para pressionar a renúncia  do então presidente da república, Marechal Floriano Peixoto. Durante esse conflito, as tropas legalistas perceberam a dificuldade de atacar o encouraçado com canhões, o que motivou a compra dos obuseiros.

As peças do Forte do Pico só disparam uma vez e foram tiros de advertência O episódio ocorreu em 1955,  por determinação do Ministro da Guerra, o Marechal Henrique Teixeira Lott  contra o navio cruzador Tamandaré, que estava com rebeldes militares comandados pelo presidente interino da república, Carlos Luz,  que objetivava impedir a posse do presidente eleito, Juscelino Kubitschek.

A visitação ocorre de terça a domingo, com visitas guiadas às 10h e às 14h,  e ingressos a 10 reais a inteira. O Forte fica na Alameda Marechal Pessoa Leal, nº 265, onde se chega pelo ônibus regular nº 33, que sai do Terminal Rodoviário João Goulart. Tem vagas para carro e não  possui equipamentos de acessibilidade para pessoas com deficiência.

 

 

  • 1° SAIBA +

Em 1955, no episódio em que o Forte do Pico disparou contra os militares rebeldes a bordo do Cruzador Tamandaré, o país encontrava-se imerso numa grande crise política relacionada ao suicídio de Getúlio Vargas, em 1954. Além disso, havia a tentativa de setores civis, ligados ao partido político UDN (União Democrática Nacional), de Carlos Lacerda, e de  alguns setores militares rebeldes em dar um golpe de Estado, o que não ocorreu em 1955 devido às forças legalistas comandadas pelo Marechal Lott. Essas forças legalistas conseguiram manter a democracia no Brasil em 1955, garantindo o respeito à constituição brasileira. Contudo, nove anos depois, em 1964 a democracia foi suspensa no país, tendo retornado apenas em 1985.

  • 2° SAIBA +

Dentre as seis fortificações em Niterói, o Forte do Pico, em 1918, foi o último a ser construído. A partir dos anos 1920, além de  não se construírem novas fortificações de defesa em Niterói, os fortes já existentes foram aos poucos inativados. Isso ocorreu na medida em que a difusão do uso avião tornou inviável defender um território por meio de fortes tendo em vista que uma cidade a ser defendida não poderia mais ser protegida posto que é raro uma posição deste tipo conseguir abater um avião. 

Dos anos 1920 até a atualidade, os países passaram a se preocupar em defender o seu território não mais com fortificações, mas sim com monitoramento do espaço aéreo por meio de equipamentos com alta tecnologia e preparação de frotas armadas que possam a qualquer momento repelir um inimigo invasor.

Embora hoje não sejam mais relevantes na defesa do território, os Fortes de uma maneira geral são espaços de memória.No caso do Brasil, esses espaços servem para  contar um pouco da história da defesa territorial do nação, e ao visitá-los é possível enxergar o laço de identidade nacional que une  as pessoas enquanto cidadãos. Nós, 215 milhões de pessoas, somos um povo que compartilhamos um passado em comum. Além disso,a visita aos fortes serve para fazer refletir sobre problemas do passado que causam consequências até hoje. Ao entender, por exemplo, que foi utilizado trabalho escravo na construção de quase todos os fortes de Niterói é possível refletir sobre o legado da escravidão e a sua consequência no Brasil de hoje,que são a desigualdade socioeconomica e o racismo.

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